O cenário é de devastação, ou mesmo de filme de terror. No cemitério São
José, que fica dentro do Hospital Dr. Francisco Ribeiro Arantes, em
Itu, praticamente não há túmulos inteiros. O cemitério existe desde a
década de 1930, quando o hospital, conhecido como hospital-colônia
Pirapitingui, foi inaugurado e passou a operar como um dos maiores
leprosários do Brasil. A destruição do cemitério, causada pela ação do
tempo e pelo vandalismo, deixa crânios e outros restos mortais a céu
aberto.
Ao chegar ao Pirapitingui, a impressão é de se está entrando em um
condomínio fechado. Na portaria, há vigias, mas a cancela é mantida
aberta. Como existem mais de 200 pessoas vivendo no local – a maioria
descendentes de doentes, o volume de visitantes é grande. É a zeladora
quem orienta a reportagem sobre como chegar ao cemitério São José, onde
estão enterrados centenas de ex-pacientes. Pelo trajeto, ruínas de
grandes estruturas hospitalares e de convivência hoje abandonadas. Na
época em que o Pirapitingui surgiu, portadores da hanseníase eram
internados compulsoriamente por agentes de saúde para evitar o avanço da
doença. Quando morriam, eram enterrados na área da unidade de saúde.
O portão do cemitério é de madeira, com uma corrente sem cadeado
fechando-o. Ao entrar, é fácil perceber o abandono. Cacos de esculturas
de santos estão pelo chão e as tampas dos túmulos estão quebradas. Em
várias delas é possível encontrar crânios, ossos do fêmur, tufos de
cabelo e restos de caixões.
O vandalismo parece ser responsável pela maior parte dos danos, mas em
alguns casos é nítido que invasores violaram seputuras à procura de
objetos de valor, como dentes de ouro. Nestas, tijolos foram retirados,
abrindo buracos por onde é possível passar o corpo de uma pessoa adulta.
Uma funcionária do hospital, que pediu para não ser identificada por
temer represálias, afirma que quem pode, retira a ossada dos falecidos
do local. "Famílias com mais dinheiro já levaram as ossadas de seus
entes queridos para outros cemitérios. Esse clima de abandono espanta as
pessoas. É raro aquelas que ainda visitam seus mortos. Acho que a dor
por encontrar essa situação é tamanha que elas preferem nem voltar. Ver
uma flor nova sobre uma das sepulturas é algo muito raro", afirma.
O G1 tentou contato com a diretoria do Pirapitingui neste sábado (26),
mas foi orientado a procurar a assessoria de imprensa do Governo do
Estado, responsável pela administração do hospital. Na capital, ninguém
foi encontrado para falar a respeito.
No começo do ano a Secretaria de Estado chegou a informar que havia um
projeto para que toda a estrutura do hospital fosse transferida à
prefeitura de Itu, que poderia transformar o local em um bairro, mas até
agora a iniciativa não saiu do papel.
Fonte: G1
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