Uma visita ao túmulo e flores. É assim que boa parte das pessoas presta
homenagens no Dia de Finados àqueles que se foram. Mas a maneira de se
homenagear e relembrar os falecidos, não só no 2 de Novembro, vem
passando por transformações.
Ao longo dos anos, essa prática social vem se adaptando à vida moderna.
Hoje em dia, por exemplo, nos Estados Unidos é possível até mesmo
realizar "funerais espaciais", no qual empresas cobram pequenas fortunas
para jogar cinzas de mortos no espaço.
Isso sem falar no crescimento de empresas que oferecem serviços
fúnebres na internet e se encarregam de todo o processo de funeral e
sepultamento.
O luto, comum no passado, é cada vez menos cultuado - seja no
vestuário ou na própria organização da vida familiar. "Era muito difícil
ir a um velório e encontrar alguém com alguma roupa que não fosse
preta. Usávamos, durante sete dias, uma tarja preta na lapela ou no
braço. Hoje não há mais o hábito do recolhimento", diz a aposentada
Suely Brito, 89 anos.
Outro costume que vem se perdendo é o de se beber em homenagem ao morto
nos velórios, nos quais carpideiras eram contratadas para chorar
durante aproximadamente 24 horas, principalmente em cidades do interior.
O antropólogo Cláudio Pereira lembra que, em tempos não muito idos, o
velório obedecia ritual respeitoso: o silêncio expressava a dor da
perda. "Hoje, contam-se até piadas, fala-se de tudo, menos do morto",
brinca Pereira.
Segundo ele, os rituais relacionados com a morte podem variar de acordo
com o lugar, a cultura, a religião e a maneira como se percebe a
morte, seja nas sociedades ocidentais ou orientais.
"As práticas do velório e do enterro realizadas pelos povos de tradição
cristã são semelhantes em vários países. Já em outros, há um modo mais
festivo, como no México, onde a celebração é feita com muita festa. Há
toda uma maneira alegre e feliz, com muita comida e música, de se
celebrar os antepassados", exemplifica Pereira.
Tradição - De acordo com o doutor em antropologia e
professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Vilson Caetano, a
comida e a dança sempre estiveram presentes nos rituais funerários das
religiões de matriz africana.
"Normalmente, os rituais são feitos com as comidas que o morto mais
gostava e com iguarias da culinária afro-baiana. Mas os mortos são
lembrados em diversas celebrações. Não se elege um dia para prestar uma
homenagem. Isso é feito todos os dias", explica o professor.
Segundo Vilson, os rituais fúnebres se desenvolvem, normalmente, no
período de sete e 30 dias, seis meses, um, três e sete anos. Mas ele
reconhece que algumas mudanças ocorreram ao longo do tempo: "A ideia é
manter a tradição, mas o tempo vai modificando determinadas coisas e
incorporando novas".
O antropólogo Cláudio Pereira lembra que um dos marcos que provocaram
mudanças nos rituais funerários foi a Revolta da Cemiterada. "A
Cemiterada é um exemplo do conflito entre tradição e reforma que exerceu
mudanças significativas de atitudes frente a morte e os mortos", cita o
antropólogo.
Autor do livro A Morte É uma Festa: Ritos Fúnebres e Revolta Popular no
Brasil do Séc. XIX, João José Reis explica na obra que a Revolta da
Cemiterada teve início no dia 24 de outubro de 1836, quando entrou em
vigor uma lei em Salvador que proibia os tradicionais enterros no
interior das igrejas e dava a uma companhia privada o monopólio dos
enterros por 30 anos, no Cemitério Campo Santo.
Medo da morte - Mudanças nos rituais ocorreram, mas o
medo da morte ainda é um sentimento que se mantém vivo. "Mesmo hoje
ainda há negação da morte. O ser humano é muito apegado ao material e
isso dificulta o processo de perda", diz o presidente da Federação
Espírita da Bahia, André Peixinho.
Por: Fabiana Mascarenhas
Fonte: Portal A Tarde
Fonte: Portal A Tarde
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