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segunda-feira, 16 de março de 2009

Ares do século XXI

O visitante que chega hoje a Tauá, a 337 quilômetros de Fortaleza, não consegue ficar imune aos novos ventos que sopram por lá. Nas conversas com moradores ou em passeios pela sede da cidade, há algo de novo no ar. Dos primeiros tempos em que serviu de passagem para as boiadas vindas do Icó, como parte do processo de colonização do Ceará, no início do século XVIII, a área que compreende o serrote Quinamuiu (palavra indígena que significa "serrote" ou "serra perto d'água") acena com um salto sem volta em direção ao século XXI.
De localidade condenada às agruras de estar situada no semiárido nordestino, Tauá vivencia nos últimos anos a transformação de uma realidade de dependência climática, para um cenário no qual o homem é o indutor do processo de mudança sustentável. Bem diferente, diga-se, do que se deu com seus colonizadores que, ao inserir a cultura do gado na região, caçaram, prenderam e mataram ou domesticaram os índios jucás, primeiros habitantes dos Inhamuns, promovendo um verdadeiro etnocídio.
As marcas dessa história ainda podem ser encontradas no Museu dos Inhamuns, da Fundação Bernardo Feitosa, que reúne um dos mais completos acervos sobre a região. Mas Tauá está voltada também e, principalmente, para marcar o seu futuro. Com recursos do Ministério das Comunicações, o município tornou-se há dois anos a primeira cidade digital do Nordeste. Atualmente, existem quatro quiosques digitais gratuitos com computadores disponíveis à população. Além dos quiosques, há também quatro pontos de wireless gratuito.
Nos quiosques, onde o movimento é mais pela manhã, é comum encontrar pessoas que já inseriram a tecnologia no seu dia a dia. A rede de saúde também se beneficia. Os agentes de saúde passaram a usar palmtops nas visitas diárias. Esse processo aboliu o uso do papel e os formulários são agora digitalizados. Antes, por meio do papel, se levava dois meses para a compilação dos dados. Agora, demora menos de dez minutos a entrar na rede.
Para que isso fosse possível, conta Alexciano de Sousa, assessor de projetos da Secretaria da Ciência e Tecnologia do Município, o primeiro passo foi a criação de um provedor municipal. Depois disso desencadeou-se um processo de busca do conhecimento. Na sede da Secretaria, até aos sábados pela manhã, é comum encontrar estudantes, de nível médio ou superior, procurando se aperfeiçoar. No local, há espaço para estudantes através da Universidade Aberta do Brasil (UFC, Ifet´s e Uece) e sala de videoconferência.
Em dois anos a Secretaria já capacitou cerca de mil pessoas em várias áreas (Linux Básico, Avançado, webdesign e Programador em Java). Atualmente, a demanda pelos cursos é reprimida. Mesmo assim, Alexciano desafia que haja no Estado, além de Fortaleza, cidade com maior número de pessoas qualificadas. "Na linha de cursos nos tornamos referencial para atendimento ao mercado de trabalho".
Prova disso é a recém criada Associação de Desenvolvimento Tecnológico de Tauá (Adett), formada por estudantes secundaristas que se uniram a outras pessoas dos cursos para montar a empresa. A Adett foi criada este ano e a carteira de clientes envolve empresas e o Liceu de Tauá, onde montaram um sistema de controle de entrada dos alunos e acompanhamento individual por meio da identificação da digital.
Outro passo importante foi a instalação de um campus da Uece na cidade em 1995. O poder aquisitivo da população aumentou e se criou a cultura empreendedora. A mudança também se deu no poder público, com grande parte dos atuais gestores oriundos da universidade.
Natural de Arneiroz, município vizinho a Tauá, o ex-reitor da Uece, Paulo Petrola, costumava dizer que Aonde o conhecimento chega até a conversa de bar torna-se diferente. Em Tauá, basta um tantinho de prosa para perceber.

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