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sábado, 29 de novembro de 2008

A LÓGICA DO GATO


Quando vejo um gato se lambendo reflito que a natureza falhou ao produzir um animal que “pensa” estar se limpando e alguns donos que “juram” que ele está limpo. Tudo bem, para não magoar quem gosta de gatos, no mínimo digo julgar uma sandice limpar-se por fora jogando toda a sujeira para dentro. Ou será que por dentro ele é tão limpinho que o ato de se lamber confere ao pêlo um estado de equilibrada assepsia? Olha, em verdade não interessa, pois a lógica felina, analisada por qualquer lado, não faz sentido algum.

Melhor dizendo, por vezes parece fazer, pois afora os referidos donos de felinos, muitos de nós temos comportamento similar ao irmos “aos pés” (nunca gostei dessa expressão), por exemplo. Consumada a obra, tomamos pedaços de papel higiênico e mandamos ver na região vandalizada pelos excrementos. Ato contínuo, como manda a etiqueta, abrimos a torneira, lavamos as mãos, fechamos a bica e pronto: mãos sujas outra vez! Esquecemos do detalhe de haver tocado na mesma torneira que antes nós e muitos outros abrimos com as mãos sujas e saímos dali faceiros, “limpíssimos” e prontos para amassar um pão se necessário. Isso é a mais pura lógica do gato. A solução? Lavar a torneira junto ou fechá-la com o auxílio de um papel toalha às mãos, principalmente se for num banheiro público.

A lógica do gato permeia nossa vida. Em casa, milhares de cuidados com a lavagem dos alimentos. Nos restaurantes da vida, croquete e pastel de churrasco. Alguns não bebem em bico de garrafa ou em borda de latinhas (o que é aconselhável) e, para evitar este contato, usam o canudinho. Os mesmos canudinhos que esperam por horas em cima de um balcão até que alguém remexa em todos, com as mãos sujas, até encontrar um par com suas cores preferidas.

Mas, como tudo na vida, até nas porcarias existe uma lição a ser aprendida. Sabemos que a observação é a mãe do aprendizado e quem o faz primeiro leva vantagem. Para variar, os políticos parecem ter corrido na frente, pelo menos os que nessa atividade estão se dando muito bem.

Alguns dominaram e incorporaram a lógica do gato sujo a tal ponto dela jamais se descuidar. Quando falcatruas vêm à tona, por exemplo, a gataria (ou seriam os gatunos?) começa a se lamber. Unem-se todos, jogando para dentro a sujeira em movimentos coordenados ou, de acordo com a lógica do gato, colocam para fora mais porcaria de modo a diluir sujeira com sujeira, dando uma falsa impressão de limpeza. Mais uma vez, sei lá! O certo é que dá certo.

Por Marcelo Drescher, médico e polêmico articulista.


Fonte: www.tiocoloral.zip.net

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